Doenças

Transposição das Grandes

Artérias (TGA)

 

Transposição das Grandes Artérias (TGA)

Antes de ler TGA, volte à aba Coração normal nas crianças maiores e adultos  para entender a divisão do coração normal em câmaras e o trajeto do sangue no seu interior e nas principais artérias e veias de nosso corpo.

Na transposição das grandes artérias, a aorta  (AO) e artéria pulmonar (AP) estão “invertidas”, ou seja: a aorta (que é a artéria que levaria o sangue já oxigenado para o corpo, no coração normal) sai do lado direito do coração (com sangue pobre em oxigênio, que chega do corpo) e, a artéria pulmonar (que levaria o sangue a ser oxigenado ao pulmão) está conectada ao lado esquerdo do coração. Desta forma, no lado direito o sangue pobre em oxigênio (em azul) sai do corpo mas retorna a ele ainda desoxigenado e, do lado esquerdo, o sangue já oxigenado nos pulmões (em vermelho)  retorna aos pulmões.

Se não houver comunicação entre os dois lados do coração, teremos duas circulações separadas uma ao lado da outra, o bebê recebe sangue muito pobre em oxigênio em seu corpo, por isso fica muito cianótico (roxinho) e isso seria incompatível com a vida. AD= átrio direito; AE= átrio esquerdo; VD= ventrículo direito; VE= ventrículo esquerdo; AO= aorta e AP= artéria pulmonar.

Se desejar, volte à aba Coração normal na circulação do feto (o bebê na barriga da mãe) para entender como dois elementos que estão presentes na vida fetal (o forame oval e o canal arterial) ajudam os bebês com Transposição das grandes artérias. 

O forame oval (uma comunicação entre as câmaras superiores do coração, os átrios) e o canal arterial (uma artéria que conecta a aorta à artéria pulmonar) podem misturar o sangue dos lados direito e esquerdo, aumentando a oxigenação do corpo.

A transposição das grandes artérias, apesar de ser uma cardiopatia grave no recém nascido, pode passar despercebida intra útero. O bebê se desenvolve bem e não há sinais de insuficiência cardíaca durante a vida fetal. No entanto, o diagnóstico pré-natal é importantíssimo pois alguns casos podem apresentar logo após o nascimento, fechamento precoce do forame oval e/ou do canal arterial, que como já vimos, são primordiais para a circulação mais adequada desses bebês até a cirurgia corretiva. 

Quando o diagnóstico de Transposição das grandes artérias ocorre ainda na vida fetal, é possível fazer um planejamento: o nascimento deve ocorrer em hospital com unidade de terapia intensiva neonatal e se possível, com equipe de cardiologia e cirurgia cardíaca disponíveis. Quando a criança nasce, iniciamos uma medicação chamada Prostaglandina E1 pela veia (geralmente por um cateter, que é um tubinho que passamos pela veia do umbigo). A prostaglandina E1 mantém o canal arterial aberto melhorando, como já vimos, a oxigenação do corpo desses bebês.

 

Quando não há suspeita de cardiopatia antes do nascimento, o bebê pode apresentar, ainda na maternidade onde nasceu, cianose (pele e lábios roxinhos por menor oxigenação do sangue) e cansaço para respirar, mas por vezes, a cianose pode não ser visível durante os primeiros dias de vida (quando o forame oval e o canal arterial ainda ajudam a misturar o sangue) e daí a grande importância do “Teste do Coraçãozinho” que é a medida da oxigenação no braço direito e em uma das pernas do bebê. Esse teste estará alterado em mais de 90% dos bebês com Transposição das grandes artérias assim como em outras cardiopatias que reduzem a oxigenação do sangue do bebê. Diante do Teste do Coração positivo, o bebê deverá realizar o ecocardiograma ainda na maternidade para a confirmação e diagnóstico correto da cardiopatia.

Em alguns casos, quando o forame oval é estreito, pode ser necessário passar um cateter especial (que tem um balão em sua extremidade). Esse cateter entra por uma veia (do umbigo ou da coxa), passa pelo forame oval estreito até o átrio esquerdo onde o balão é insuflado (cheio) e tracionado em direção ao átrio direito, rasgando o septo entre os átrios e aumentando a comunicação entre as câmaras superiores do coração para melhorar a mistura de sangue e a oxigenação do bebê. 

Nos três desenhos abaixo, retirei as grandes artérias para vocês terem uma visão melhor dos átrios no procedimento de ampliação do forame oval através do cateterismo (procedimento de Rashkind ou atriosseptostomia por balão) realizado por um cardiopediatra especialista em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista:

CIRURGIA CORRETIVA

A cirurgia corretiva (cirurgia de Jatene) em geral é realizada na primeira semana de vida.

O professor Adib Jatene, que foi um grande cirurgião cardíaco brasileiro, realizou a primeira cirurgia para correção anatômica da Transposição das grandes artérias em 1975.

A operação de Jatene é a cirurgia de escolha nos casos de Transposição das grandes artérias em todo o mundo e consiste em cortar as duas artérias (linha pontilhada verde) e conectá-las em suas raízes (parte inicial da artéria) opostas, incluindo a translocação das artérias coronárias (que são essas pequenas artérias (setas amarelas) que levam os nutrientes ao músculo cardíaco). As artérias coronárias são cortadas da aorta juntamente com um “botão” de tecido ao seu redor para a  “nova aorta” (que chamamos de neo aorta).

Após a operação de Jatene, a raiz da neo pulmonar (ou “nova artéria pulmonar”) é a antiga raiz da aorta (em amarelo) e a raiz da neo aorta (ou “nova aorta”) é a antiga raiz da artéria pulmonar (em verde). Na cirurgia o forame oval e o canal arterial também serão fechados.

Após a cirurgia, essas crianças deverão ser acompanhadas por seu cardiopediatra, que poderá solicitar exames periódicos como radiografia de tórax, ecocardiograma dentre outros e poderá fazer as orientações necessárias a uma vida saudável.