Graças aos avanços da cardiologia pediátrica, a sobrevivência de pacientes com cardiopatias congênitas até a idade adulta tem sido realidade e, assim como na população em geral, precisamos enfatizar os pilares para uma vida saudável, com ênfase na redução de fatores de risco cardiovasculares, e para isso é crucial combatermos o sedentarismo.

Crianças com cardiopatias congênitas estão mais comumente acima do peso, devido à inatividade física, quando comparadas às crianças sem cardiopatias congênitas da mesma idade.

Infelizmente, muitas famílias e pacientes com cardiopatias congênitas têm medo das possíveis complicações do problema cardíaco pelo exercício físico. No entanto, os benefícios dos exercícios em indivíduos com cardiopatia congênita são muito bem estabelecidos, assim como o papel dos exercícios na prevenção de fatores de risco adquiridos para doença cardiovascular.  Apesar disso, existe um risco de complicações associadas ao exercício, nos pacientes cardiopatas mas devemos enfatizar que esse risco apesar de existente, é baixo. E para que esses adolescentes e adultos não sejam submetidos a risco desnecessário, podendo usufruir de um estilo de vida mais saudável, é imprescindível que, previamente ao início da atividade física esses pacientes sejam muito bem avaliados pelo seu cardiologista.

Atualmente recomenda-se a avaliação através de cinco “passos”:

A história clínica e o exame físico completo devem ser realizados por cardiologista com experiência em cardiopatias congênitas e conhecimento em medicina do esporte.

Os cinco parâmetros que devem ser avaliados antes da liberação de atividade física são:

  1. Função ventricular, que é a força da musculatura dos ventrículos, as câmaras responsáveis pelo bombeamento de sangue do coração para o pulmão (ventrículo direito) e do coração para o corpo (ventrículo esquerdo). Volte à aba Coração normal – Crianças maiores e adultos para entender melhor o funcionamento dos ventrículos no coração.

2. Pressão na artéria pulmonar. Algumas cardiopatias podem causar aumento da pressão da artéria pulmonar e isso pode aumentar o risco de mal-estar súbito durante o exercício.

3. Tamanho da Aorta, que é a principal artéria do nosso corpo. A aorta traz o sangue já oxigenado e limpo do coração e o distribui a todo o nosso corpo. Algumas condições genéticas associadas a cardiopatias podem estar associadas a dilatação e até enfraquecimento das paredes da aorta.

4. Ritmo cardíaco. Verificamos a possibilidade de arritmias que são alterações do ritmo do coração.

5. Saturação de oxigênio em repouso e durante o exercício. Algumas condições cardíacas podem estar associadas a baixa oxigenação do sangue. A saturação normal é maior que 95% no repouso e durante o exercício, mas pode variar bastante em determinadas cardiopatias.

Os três primeiros parâmetros acima podem ser avaliados pelo Ecocardiograma.

Avaliamos o ritmo através do Eletrocardiograma (ECG), o Holter (que é a monitorização do ECG durante 24 horas) e preferencialmente o Teste Cardiopulmonar (também chamado de Teste ergoespirométrico). Quando o Teste Cardiopulmonar não for possível, o Teste de Esforço (que também é chamado de Teste Ergométrico) poderá ser realizado, principalmente nas cardiopatias mais simples. A Oximetria (medida da saturação de oxigênio) é realizada com a colocação de um aparelhinho no dedo do paciente e pode ser feita no próprio consultório médico. Outros exames podem ser necessários, dependendo da cardiopatia (e das cirurgias realizadas) como a Tomografia Computadorizada (TC), a Ressonância Magnética (RM), Estudo eletrofisiológico, dentre outros. Esses parâmetros devem ser avaliados em repouso e durante o exercício. Somente o seu cardiologista poderá definir os exames necessários no seu caso.

A recomendação do tipo de atividade física, inclusive competitiva, vai depender dos resultados dos cinco “passos” e dos cinco parâmetros já comentados acima, podendo variar desde a liberação para todo e qualquer esporte (inclusive em competições) até apenas esportes que envolvam habilidade (sem necessidade de força ou capacidade aeróbica) e não competitivos.

A competição leva o atleta a tentar ultrapassar seus limites e isso pode não ser saudável em determinadas cardiopatias.

A reavaliação deve ser realizada a cada 6 a 12 meses, dependendo da cardiopatia e do esporte escolhido.

É muito importante que sempre seja respeitada a autonomia do paciente e que o processo de decisão inclua restrições estritamente necessárias para que os pacientes não fiquem limitados desnecessariamente, mas também não se coloquem em risco durante a atividade esportiva.

Fonte: Budts W et al. European Heart Journal (2020).